terça-feira, 21 de agosto de 2007

As notícias de hoje, 21/08, são:

As notícias de hoje, 21/08, são:



- Lula reafirma que Brasil não teme efeitos da crise internacional



- Financiar casa própria tá fácil



- Financiamento imobiliário cresce 56% de janeiro a julho



- Setor imobiliário brasileiro não corre risco de passar por crise



- Bancos não estão atrelados ao "subprime"



- Dados do setor imobiliário dos EUA podem elevar tensão nos mercados



- Mercado Aberto - Casa.com



- Governo estuda substituir caderneta por títulos novos



- Chile e México têm experiências bem-sucedidas


Lula reafirma que Brasil não teme efeitos da crise internacional
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou nesta segunda-feira que o Brasil não teme os efeitos da crise financeira que atinge o mercado imobiliário dos Estados Unidos nas últimas semanas, com reflexos negativos nas bolsas de valores em vários países. Em seu programa semanal de rádio “Café com o Presidente”, Lula disse que o Brasil tem a “preocupação natural de um país emergente”.

De acordo com o presidente, o país está tranqüilo porque “fez a lição de casa”, o que possibilitou que atingisse na área econômica um índice de maturidade tão grande que a seriedade não é mais uma coisa eventual, um comportamento eventual, e sim uma coisa definitiva.

“O Brasil não vai retroceder. Este país é um país sério, é um país governado com seriedade, nós aprendemos a fazer a lição de casa. Ou seja, quando muitos ficavam gritando pela imprensa que nós deveríamos gastar, nós preferimos economizar e hoje nós temos a estabilidade macroeconômica necessária, as reservas necessárias pra gente dizer: a crise que está acontecendo não vai afetar o Brasil”, disse.

Segundo Lula, o país tem segurança para uma “eventual especulação financeira”. O presidente afirmou também que “apesar dos que parecem torcer para as coisas não darem certo”, o Brasil não está com medo da crise”.

“Apesar de ficar lendo, ficar ouvindo, parece que têm algumas pessoas que torcem para as coisas não darem certo no Brasil, parece que têm pessoas que torcem para que a desgraça aconteça nesse país - ou seja, o dado concreto é o seguinte: o Brasil não está com medo dessa crise”.

Na avaliação do presidente, a atual crise é “ eminentemente americana”. “É uma crise do setor imobiliário americano, ou seja, de alguns fundos que compraram títulos pensando em ganhar muito dinheiro, sabe, de terceira categoria nos Estados Unidos. Então, na hora em que os Estados Unidos resolverem o seu problema não terá problema no mundo”, completou.

Fonte: Diário ABC



Financiar casa própria tá fácil
Nunca esteve tão vantajoso para as classes média e média baixa fazer um financiamento imobiliário. Para quem tem renda familiar até R$ 4,9 mil, os juros anuais estão cerca de quatro pontos percentuais abaixo da média de mercado. Para as classes com renda familiar até R$1.875,00 os juros estão em seis pontos percentuais mais em conta. Além disso, o financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF) com juros mais baixos, que era só para imóveis até R$ 80 mil, passará a ser oferecido para imóveis de até R$ 130 mil.

Os juros médios do mercado atualmente são de 12% no bancos privados, diminuindo na CEF a 8,16 % para quem ganha até R$ 4,9 mil e a 6% para quem ganha até R$ 1.875,00. A CEF fez uma simulação para avaliar quanto representa a queda dos juros anuais na prestação de um financiamento de R$ 100 mil para ser pago em 240 meses.

Em um empréstimo de R$ 100 mil com juros a 10,16% para pessoas com renda familiar até R$4,9 mil, o valor da prestação era de R$ 1.358,11. Quando a CEF baixou os juros para 8,66%, um ponto e meio percentual a menos, o valor da prestação foi reduzido em R$ 125 e passou a ser de R$ 1.233,11. Com a redução dos juros para 8,16% que ocorrerá neste mês, novos financiamentos nessa mesma faixa terão prestações em torno de R$ 1.191,00.

E haverá novo corte de meio ponto percentual em janeiro, só para quem tem conta no FGTS há pelo menos três anos, com juros caindo para 7,66% e novas prestações em torno de R$1.149,00. O cotista que fizer um empréstimo de R$ 100 mil para pagar em 240 meses a partir de 2008, pagará R$ 208,11 a menos que as prestações de quem fez empréstimos no início deste ano.

Fonte: InvestNews



Financiamento imobiliário cresce 56% de janeiro a julho
O Banco Nossa Caixa registrou aumento de 56% nas operações de crédito imobiliário entre janeiro e julho. Os dados são comparados ao mesmo período do ano passado.

Para o gerente do Departamento de Suporte a Negócios Imobiliários, Maurício Antônio Rosa, esse aumento deve-se basicamente a ação da rede de agências do banco e às condições competitivas do produto disponibilizado.

As operações de aquisição e construção têm prazo máximo de parcelamento de 240 meses. Funcionários públicos podem financiar até 100% do valor do imóvel.

Para os demais clientes, o limite é de 80%, limitado a R$ 800 mil. Em caso de reforma ou ampliação, o prazo é de até 60 meses e o valor máximo de financiamento é de R$ 100 mil – limitado a 30% do valor de avaliação do bem. Em todos os financiamento, a prestação mensal mínima é de R$ 250.

Fonte: Estadão



Setor imobiliário brasileiro não corre risco de passar por crise
O Brasil está livre de passar por uma crise no setor de crédito imobiliário semelhante à que ocorre atualmente nos Estados Unidos, segundo o superintendente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), José pereira Gonçalves.

— Os mercados de crédito brasileiro e americano são muito diferentes — diz Pereira.

Ele explica que o Brasil utiliza, para financiamento da casa própria, recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança, "que são bastante seguros e atualmente têm recursos em abundância para ser aplicados".

No caso norte-americano, o imóvel é financiado com dinheiro do mercado secundário, em que os bancos emprestam o dinheiro e transformam essa divida em títulos vendidos a outras instituições. A crise estourou porque uma grande quantidade de empréstimos foram feitos no grupo do subprime, de altíssimo risco, com tomadores que não são obrigados a apresentar documentos que assegurem o pagamento da dívida, como comprovante de renda. Muitas pessoas e grupos com histórico ruim de pagamento fazem parte desse mercado. Como as taxas de retorno são bastante elevadas, investidores mais ousados acabam apostando nos papéis ofertados no subprime.

No Brasil, ao contrário, além de o processo incluir a exigência de várias garantias, o crédito imobiliário não passa pelo mercado secundário.

— Nosso sistema não tem nada a ver com esse modelo. O nosso mercado de crédito é uma coisa mais estável, por isso não estamos observando nenhuma possibilidade de qualquer impacto da crise americana — afirma Pereira Gonçalves.

A Abecip mantém as projeções para o setor, neste ano, de que o volume de operações contratadas com recursos das contas de poupança no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) somando R$ 15 bilhões, o que representaria crescimento de 60% em relação a 2006. Até julho, o volume contratado totalizou R$ 8,525 bilhões, superando em 71,81% o volume contratado no mesmo período de 2006.

Fonte: Correio do Brasil



Bancos não estão atrelados ao "subprime"
Os maiores bancos brasileiros: Bradesco, Itaú e Unibanco anunciaram nessa sexta que não estão expostos a ativos do mercado de crédito imobiliário de segunda categoria (subprime), dos EUA. Esse segmento de hipotecas é o epicentro da crise financeira iniciada há cerca de um mês que tem afetado o desempenho das bolsas de todo o mundo e, em especial, o segmento de bancos.

Para evitar maiores danos, os bancos centrais de vários países já intervieram injetando dinheiro no sistema bancário garantindo, assim, a liquidez que estava ameaçada pela falta de pagamento das parcelas dos financiamentos de imóveis.

Os problemas começaram quando dois hedge funds do Bear Stearns, banco de investimento dos EUA, entraram em colapso por terem ativos subprime em suas carteiras. No Brasil, a primeira instituição a se manifestar sobre o tema foi o Itaú, na noite de quinta-feira.

"(Esses ativos) não fazem parte da política de investimentos do conglomerado, cuja execução e implementação é rigorosamente supervisionada pelas nossas áreas de Controles Internos e de Administração de Riscos", afirmou em nota o diretor de Relações com Investidores do Itaú, Alfredo Egydio Setubal. Nesta sexta-feira, os bancos Bradesco e Unibanco fizeram o mesmo. Todos os três bancos destacaram que não têm ativos ligados a crédito subprime nos EUA ou em outros países.

Fonte: Monitor Mercantil



Dados do setor imobiliário dos EUA podem elevar tensão nos mercados
A agenda de eventos econômicos mais branda desta semana não deverá ser uma garantia de tranqüilidade para o mercado financeiro global. Novos problemas em fundos de investimentos internacionais ou em empresas de crédito habitacional nos Estados Unidos podem trazer de volta o pânico que tem sacudido as Bolsas de Valores pelo mundo.

De dados a serem divulgados, destaque para os números de solicitações de empréstimos hipotecários e de vendas de imóveis novos nos EUA.

Na quarta-feira, a MBA (associação que representa os bancos de financiamento imobiliário nos Estados Unidos) apresenta os números de pedidos de empréstimos hipotecários. Como o mercado está altamente sensível a dados desse segmento, qualquer número pode ter efeito no mercado.

Na sexta-feira, o governo americano vai divulgar números das vendas de imóveis novos registrados em julho.

O mercado financeiro global tem enfrentado momentos de grande oscilação e instabilidade desde o dia 24 de julho. O temor de que a crise que afeta o segmento de crédito imobiliário de alto risco (chamado de "subprime") dos EUA contamine o resultado de instituições financeiras e outros setores da economia abalou as Bolsas nas últimas semanas.

Nem os dados do CPI (índice de inflação ao consumidor dos EUA), divulgados na semana passada, que ficaram dentro do esperado, foram suficientes para animar o investidor.

A piora do mercado na semana passada levou o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) a reduzir, na sexta, a taxa de juros que utiliza para emprestar dinheiro aos bancos. A intenção foi tentar melhorar o problema de liquidez que o sistema financeiro tem enfrentado na turbulência.

As Bolsas, com exceção das asiáticas, subiram em todo o mundo na sexta em razão da decisão do Fed. A Bolsa de Tóquio, que no último pregão havia perdido 5,42%, abriu hoje em alta e nos primeiros minutos de negociação subia 3,2%.

Se a crise não se arrefecer, analistas já contam com a possibilidade de o Fed reduzir a taxa básica de juros norte-americana, que é de 5,25% anuais. A próxima reunião do Fed será em 18 de setembro.

Desde o dia 9, com a piora da turbulência, os bancos centrais de países como EUA, Japão e Austrália, além do BCE (Banco Central Europeu), passaram a injetar dinheiro no sistema financeiro como forma de evitar que a queda na oferta de recursos elevasse os juros praticados no mercado.

Brasil

O Brasil, ao lado de outros mercados emergentes, tem sofrido com a crise, apesar de não estar diretamente envolvido com os episódios que têm motivado as turbulências.

Os grandes investidores têm vendido ativos (ações, moedas, papéis de dívida externa) dos emergentes para cobrir prejuízos registrados em outros mercados. Os investidores também têm procurado levantar recursos para aplicar em títulos do Tesouro norte-americano.

A Bolsa de São Paulo registrou desvalorização de 7,75% na semana passada. Neste ano, ainda acumula alta de 9,19%.

Hoje, os investidores estarão atentos aos dados do boletim Focus. Feito semanalmente pelo Banco Central com cem instituições financeiras, o boletim traz a projeção para itens relevantes como inflação e câmbio.

Na quinta-feira, o IBGE divulga o IPCA-15, espécie de prévia do índice oficial de inflação. A expectativa é que o índice mostre alta de 0,34%, contra 0,24% da medição anterior.

Fonte: Folha de São Paulo



Mercado Aberto - Casa.com
A internet passou a ser um território cobiçado pelo ramo imobiliário. Estima-se que, em 2006, o canal tenha sido responsável pela receita de R$ 2 bilhões da venda de imóveis residenciais na Grande São Paulo. Com base nos dados, a imobiliária Lopes acaba de contratar o executivo Roberto Nascimento (ex-CEO do Planeta Imóvel) para diretor da unidade de internet da companhia.

Fonte: Folha de São Paulo



Setor imobiliário mantém as projeções de avanço até 2017

O setor imobiliário brasileiro está atento à crise dos Estados Unidos, mas acredita que os impactos serão mínimos. Embora estejam sofrendo com a queda do preço de suas ações e admitam uma redução dos investimentos estrangeiros em seus negócios durante a turbulência, as empresas afirmam que manterão seus lançamentos e esperam um crescimento expressivo do setor ainda na próxima década. O déficit habitacional, a crescente oferta de crédito e a relação de preços da construção estão entre os aspectos que favorecem a previsão de um período favorável.

"A fuga de capitais para socorrer o mercado norte-americano deve continuar a curto prazo. Mas a longo prazo, os atrativos que temos aqui poderão ser uma excelente alternativa para os investidores internacionais", acredita João Crestana, presidente recém-eleito do Sindicato das Empresas de Habitação de São Paulo (Secovi-SP). "Temos uma demanda muito grande e um mercado em desenvolvimento, com um grande potencial para desenvolver produtos e de inserir camadas novas no mercado consumidor, e isso gera boas perspectivas", completa.

Com relação à concessão de crédito, o potencial de crescimento desse segmento é muito grande no Brasil. Hoje o crédito imobiliário representa 2% do Produto Interno Bruto. Nos Estados Unidos, esse indicador está em 70%. Os bancos brasileiros vêm seguidamente batendo recordes de concessão crédito imobiliário. Nos sete primeiros meses do ano, as instituições concederam R$ 8,525 bilhões, um crescimento de 72% em relação ao semestre anterior.

A expectativa é fechar o ano com R$ 15 bilhões, alta de 60% em relação aos R$ 9,340 contratados no ano passado, informa a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

"Nosso sistema não tem nenhuma relação com o norte-americano. Nós ainda não temos a figura do crédito secundário, só temos o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), que é feito por securitizadoras e ainda está muito incipiente", avalia José Pereira Gonçalves, superintendente técnico da Abecip.

Segundo Pereira, o SFI foi criado há dez anos e securitizou menos de R$ 5 bilhões neste período. "Outra diferença é que aqui ele tem sido utilizado em operações estruturadas de grandes negócios, como para financiar shopping centers", explica.

Ações

Apesar de ter registrado queda de 20% no valor de suas ações nas últimas semanas, a Rodobens Negócios Imobiliários mantém o otimismo. "Oito dos dez maiores acionistas da empresa são estrangeiros, entre eles, a gestora internacional de fundos de investimento Janus Capital. Eles reafirmaram o interesse em manter investimentos na empresa pelos próximos dois anos", ressalta Orlando Viscardi Neto, que é diretor de Relações com Investidores da Rodobens.

Segundo o diretor, o free float (quantidade de ações em circulação) da companhia é de 47%, sendo que deste montante, três quartos estão nas mãos de acionistas estrangeiros. A participação de capital estrangeiro nas vendas de imóveis produtos imobiliários é inferior a 1% e, segundo Orlando, não chega a afetar as vendas.

"Estamos vendo este momento com bastante serenidade. Enxergamos muito mais um movimento de saída de capitais estrangeiros, mas não necessariamente por conta da mudança de percepção dos investidores sobre a economia brasileira, mas por conta da cobertura de perdas que eles tiveram em outros mercados. Acreditamos que o preço das ações das empresas brasileiras se recupere dentro de três a quatro semanas", analisa.

Paraná em alta

No Paraná, o mercado imobiliário reviu a meta de crescer 15% para 17% este ano. Hoje, 8% do PIB vem da construção civil na região, ou seja, R$ 8,1 bilhões. "O setor voltou a investir na construção e a oferta de imóveis começa a suprir a demanda. Esperamos uma taxa de crescimento que envolva toda a cadeia da construção civil e que possa se sustentar por dez ou 15 anos", diz Hugo Peretti Neto, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário.

Dados do Sindicato da Indústria da Construção do Paraná mostram que em lançamentos verticais residenciais o aumento em relação a 2006 chega a 54%. O incremento deve atingir a marca de mais de 1,6 milhão de metros quadrados construídos.

O setor imobiliário brasileiro está atento à crise dos Estados Unidos, mas acredita que os impactos serão mínimos. As empresas manterão seus lançamentos e esperam crescimento expressivo do setor.

Fonte: Jornal DCI



Governo estuda substituir caderneta por títulos novos

Alex Ribeiro VALOR ECONÔMICO

O governo está buscando no exterior experiências bem-sucedidas que podem ser replicadas em uma reforma do crédito imobiliário no Brasil. Uma comitiva com técnicos do Banco Central, representantes de bancos e dos ministérios da Fazenda e das Cidades foi visitar o México e, mais recentemente, o Chile. O BC também está fazendo um amplo levantamento de todos os normativos que regulamentam o crédito imobiliário, desde o antigo Banco Nacional da Habitação (BNH), além de um detalhado estudo sobre números do setor.

O diagnóstico do governo é que será necessário aperfeiçoar a regulamentação no Brasil em duas áreas. Uma delas é para desenvolver um mercado de papéis imobiliários, que num futuro não muito distante deverá substituir a caderneta de poupança como fonte de recurso para os financiamentos habitacionais. Outra preocupação é criar um sistema eficiente de subsídio nos financiamentos à baixa renda.

Na opinião de fontes que acompanham as discussões, o direcionamento obrigatório de recursos da caderneta de poupança para a habitação está com os dias contados, com a queda dos juros básicos da economia. Pela regra atual, 65% dos depósitos captados em caderneta devem ser dirigidos pelos bancos a financiamentos habitacionais.

O sistema chegará muito próximo do limite em 2008, caso se confirme o cenário, previsto pelos analistas do mercado financeiro, de queda da taxa Selic para abaixo de 10% ao ano. Como a caderneta de poupança garante uma remuneração mínima de 6% ao ano aos investidores, além de uma atualização pela taxa referencial (TR), o "spread" nos financiamentos habitacionais ficará muito pequeno, dificultando essas operações.

O governo já vem estudando formas de lidar com o problema, reduzindo o rendimento mínimo da caderneta. Mas receia pagar o preço político de mexer com a poupança. Uma fonte lembra que um ajuste técnico de rotina na fórmula de cálculo da TR, feito no início do ano, levou a reações fortes da opinião pública e do Congresso. Outra preocupação é com o risco de, ao mexer na poupança, estimular ações judiciais, que produziriam um "esqueleto" financeiro, que se voltaria contra o governo no futuro.

Antes de mexer com a caderneta de poupança, porém, o governo quer ter um sistema de mercado de crédito imobiliário que funcione bem. A aposta é nos papéis imobiliários, que se inspiram no modelo dos sistemas de hipotecas adotado em economias desenvolvidas. Nesses sistemas, os agentes financeiros captam recursos por meio de venda de títulos com rendimento vinculados a operações de crédito imobiliário.

Técnicos do governo dizem que o sistema é considerado melhor do que na caderneta porque as captações são de longo prazo, o que evita descasamentos entre ativos e passivos do sistema imobiliário. No modelo de crédito direcionado, os passivos são captações de curto prazo, feitas na caderneta de poupança, e os ativos são empréstimos de longo prazo. Desde 1997, com a criação do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), já existe um arcabouço regulatório para a captação por meio de papéis imobiliários. Mas, até agora, ele foi usado quase que somente em financiamentos comerciais, seja porque os juros básicos eram muito altos ou porque o sistema de crédito direcionado inviabiliza o SFI.

A Caixa Econômica Federal anunciou a sua intenção de dar um impulso nesse mercado, com uma venda de um total de R$ 2 bilhões em papéis imobiliários. O banco já fez as suas primeiras sondagens no mercado e identificou demanda de R$ 4 bilhões pelo pelo papel imobiliário, bem superior à pretendida oferta. Para os bancos privados, a operação da Caixa é vista como um grande teste - que pode abrir as portas de outras operações. Mas eles reclamam ajustes nas regras, que estão sendo estudadas pelo BC e pela Fazenda.

Um dos principais problemas é o direcionamento de crédito. A maior parte dos bancos privados, até pouco tempo atrás, estava desenquadrada das aplicações mínimas exigidas de caderneta de poupança. Os bancos aceleraram a concessão de empréstimos habitacionais e, hoje, alguns já aplicam mais do que o percentual exigido de 65% dos depósitos em poupança. Se os bancos privados lançarem papéis imobiliários no mercado, irão tirar os créditos imobiliários concedidos de suas carteiras, ficando desenquadrados nas regras do direcionamento de recursos da caderneta. Nessa hipótese, seriam penalizados com recolhimento dos valores não emprestados ao BC, recebendo em troca remuneração abaixo dos juros de mercado.

Alguns bancos chegam a propor o fim puro e simples do direcionamento da caderneta. A solução não é bem vista dentro de setores do governo, que avaliam que, apesar de todos os seus problemas, o direcionamento da caderneta tem funcionado bem para impulsionar a construção civil. Uma proposta alternativa defendida por alguns bancos, entre eles a Caixa, é que os créditos que forem usados para lastrear papéis imobiliários continuem a contar no cumprimento do direcionamento obrigatório de recursos da poupança. Além do problema do direcionamento de crédito, os bancos estão procurando fazer outros ajustes para viabilizar o mercado de papeis imobiliários. Um deles é a criação de um fundo para dar liquidez ao mercado secundário.


Chile e México têm experiências bem-sucedidas
A experiência chilena chama a atenção pelo sucesso em fazer os subsídios do governo chegarem aos mais pobres, sem criar distorções nos mecanismos de mercado do crédito imobiliário. O México, que tem uma história parecida com a brasileira de intervenção estatal na área de financiamento habitacional, é um exemplo de como construir rapidamente um mercado secundário de hipotecas.

O Chile optou por um sistema em que o governo entra com o subsídio diretamente na concessão do financiamento, reduzindo a dívida, sem alterar os juros vigentes no mercado. O subsídio cobre praticamente todo o valor do financiamento para quem está entre os 20% mais pobres da população. Na faixa seguinte, entre os 20% e 40% mais pobres, o subsídio é menor. Daí em diante, não ha subsídio. Um estudo recente da FGV Projetos aponta que 62% das unidades habitacionais construídas entre 1980 e 2002 receberam subsídio.

Para fazer jus ao auxílio, o mutuário tem que fazer uma poupança prévia, em um período entre 12 e 60 meses. "A poupança prévia é importante porque ajuda a traçar um histórico de pagamento da família", afirma José Pereira Gonçalves, superintendente-técnico da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que integrou a comitiva que foi ao Chile. "Além disso, reforça o entendimento nas famílias de que a aquisição do imóvel é fruto do esforço próprio."

A secretária Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, reconhece que a experiência chilena tem suas qualidades - entre elas, a grande abrangência do programa -, mas pondera que o modelo não pode ser pura e simplesmente copiado. Uma diferença é que o Chile tem um histórico mais longo de estabilidade macroeconômica, além de um sistema de previdência privada mais abrangente. "No Chile, a política habitacional é decidida e implantada por um governo unitário", afirma ela. "O Brasil é uma federação, e a participação de Estados e municípios é fundamental."

O governo está, neste momento, reexaminando a regulamentação para dar maior harmonia e uniformidade às diversas formas de subsídio habitacional. Um dos problemas, é que o subsídio nas transferências de recursos do Orçamento da União tem uma estrutura, e no Programa de Subsídio à Habitação Social (PSH), tem outra. A idéia é que os subsídios cheguem ao público-alvo, como foi feito nos empréstimos com recursos do FGTS, no quais 84% dos subsídios chegam a famílias com renda anual até cinco salários mínimos.

O México é considerado um exemplo interessante porque tem várias semelhanças com o Brasil. "No México, já foi feito tudo o que o Brasil já fez ou um dia vai fazer na área", afirma Teotônio Rezende, da Caixa Econômica Federal. No México, há uma espécie de FGTS, que também tem recursos direcionados para habitação. O México desenvolveu rapidamente um mercado secundário de hipotecas, fomentado a partir de 2001, com a criação da Sociedade Hipotecária Federal (SHF). Essa instituição atuou para dar uniformidade aos contratos e para segurar as operações securitizadas. Os bancos dizem que já existem condições para criar um mercado semelhante no Brasil, mas ele é inviabilizado pelo crédito direcionado. "Não temos divergências sobre o diagnóstico de que é preciso desenvolver um mercado secundário de hipotecas ", afirma Inês Magalhães. "Mas é bom lembrar que foi o crédito direcionado que puxou a construção civil nos últimos dois anos".(A.R.)

Fonte: Valor Econômico

Nenhum comentário: